segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O louco do IPF

Na verdade, sempre acreditei pouco nos psiquiatras e nos analistas. A mente é uma caixa de armadilhas que o tempo vai aperfeiçoando. Joga constantemente. Cria atalhos, vias alternativas de fuga. Quando se pensa que está próximo de uma definição, o labirinto se complica ainda mais.
Como regra, fui um desastre em minhas observações. Previ muitas coisas em relação a determinadas pessoas. Errei quase na totalidade das vezes. Por exemplo: fui no casamento da Tania e achei que o Ilton não a faria feliz. Não sei como explicar, mas era um sentimento lá de dentro, aquela sensibilidade de asno. Cheguei a comentar minha apreensão com o Ivo e a Anita. Por sorte, minha burrice se confirmou. Ele não pode ser melhor marido e pai. Fantástico o Ilton. Daí que já não me problematizo muito ao prognosticar coisas ruins. Normalmente, acontecem ao contrário. Na realidade, se eu fosse psiquiatra ajudaria muito a povoar os manicômios. Talvez eu mesmo fosse uma aquisição na ala dos desnorteados.
No Instituto Psiquiátrico Forense, tinha um louco que era brigadiano, ou seja, um capitão da Brigada Militar que cometera um crime e fora parar naquele manicômio forense. Um dia, estava parado no pátio e um outro interno varria as folhas caídas no chão. Ao chegar nos pés do brigadiano, este fuzilou-o com o olhar, advertindo-o: “mais respeito, não vês que sou um policial militar?” O alienado varredor olhou de soslaio e respondeu de imediato: “aqui todo o mundo é louco” e seguiu varrendo os pés do capitão. Isso se repete muito na vida. Especialmente para aqueles que vivem pendurados nos cargos, deliciando-se com seu poder. O general Mourão Filho, que fez a Revolução de 64, quando se reformou ia ao quartel general e nem os soldados batiam continência para ele. Certa vez, vi um desembargador, que fora presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, tentando entrar no prédio. Era velhinho, com dificuldade de locomoção. Teve de colocar seu celular, pasta e documentos em cima da mesa do guarda para penetrar no recinto. Quase aos tombos. Isso é o poder. Legião de puxa-sacos a que se sucede uma legião de desinteressados. Não tem mais o que dar, então não serve para nada.
Pois é...tudo é assim como um louco do IPF.

2 comentários:

  1. Meu irmão amado. Quando leio tuas crônicas, e o faço sempre, sinto uma profunda dor na alma. Fico a pensar por que os olhos das emoções teimam em nos cegar e impedir-nos de ver a beleza, mesmo escondida no mais recôndito do nosso ser? Romain Roland disse, em Jean Christofhe, "somos apenas gotas neste oceano, algumas, porém, brilham." És uma delas. Do brilho do teu amor, dependem tantos outros corações...teus filhos, eu, a Iolanda e outros mais que nem caberiam aqui. Recebe o mais carinhoso dos meus abraços. Um beijo saudoso da Mara.

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  2. Como não amar esse ser doce e maravilhoso? Impossível....

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