quarta-feira, 18 de abril de 2012

Meu amigo Joaquim

Meu amigo Joaquim. Ficou chocado com a notícia de que seu colega de quartel, Pacheco, fora atropelado por um carro. Na avenida Osvaldo Aranha. Todo quebrado.
Pegou o ônibus Petrópolis e dirigiu-se para a Beneficência Portuguesa. Tinha que visitar o companheiro de farda. Consolá-lo. Oferecer alguma ajuda, quem sabe.
Quarto 406, no quarto andar.
Chegou cedo ao hospital. Surpreendeu-se ao entrar no quarto de Pacheco. Sozinho, o infeliz estava enfaixado da barriga até a cabeça. Imóvel. Só mexia os olhos.
Joaquim sentou, cumprimentou o amigo e começou a relembrar o passado. Quantas aventuras na cavalaria. Cheiro horrível das baias. De manhã cedo, com um frio danado, tinham que dar alfafa para os cavalos. E, depois, comer aquela comida horrível no rancho dos oficiais. Feijão duro. Virava o prato e o desgraçado não caía.
Perguntou ao Pacheco se não recordava daquela vez em que ele foi fazer exterior com os soldados e um desses maturrangos quase se enterrou num banhado. Grande susto.
Outra vez em que foram fazer ordem unida e caiu uma chuvarada terrível. O Pacheco, dando as ordens, só teve tempo de dizer: “debandar!!!”. E os soldadinhos saíram em desabalada corrida para o esquadrão.
Grande Pacheco. Poderia contar com ele. Inclusive se estivesse apertado de dinheiro. Não era daqueles que abandonavam os colegas em dificuldades.
Na despedida, foi enfático: “vou voltar aqui pra te ver, pode ficar descansado”.
Entre aquela abundância de faixas pelo corpo inteiro só se viam dois olhos que fechavam e abriam, arregalavam-se e viravam-se como fuinha assustada. O Pacheco. Visitado e atordoado.
Uma semana depois, Joaquim caminhava na rua da Praia e encontrou seu colega Paludo. “Soubeste do Pacheco?”, disse-lhe, ao que o amigo respondeu: “Sim já visitei o coitado no hospital Ernesto Dornelles”. “Hein?”, foi só o que Joaquim foi capaz de dizer, despedindo-se sem jeito.