quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Regime para emagrecer a alma

Cuidado amigo, se você andar muito depressa pode deixar a alma para trás. Ouvi isso numa música do Kledir. Engraçado, sempre me referi mais ou menos nesses termos, quando procurava definir aquelas pessoas afoitas ou apressadas, cujo corpo anda depressa à frente e a alma vai atrás, exaurindo-se para alcançá-lo. Aos trambolhões. “Por favor, pára, espera, diminui o passo, que eu não agüento mais.” Pobre alma, exigida demais.
Mas se o corpo há de exercitar-se para correr, alimentar-se para permanecer forte, do mesmo modo a alma precisa de um alimento para manter-se rígida, com disposição para desbravar as dúvidas e encarar pessoas duras.
Aí está uma coisa incomum. Quando a barriga aumenta pensa-se logo em regime para emagrecer. E o espírito? Nunca engorda? Já imaginaram um regime para emagrecer a alma?
Pois é, aí é que as coisas ficam complicadas. Padres, pastores, gurus, avós, velhas tias solteironas, todos com uma receita infalível. Diminui o sexo, paga o dízimo, limpa a aura, respeita os mais velhos, tira o dedo do nariz.
Não sei o que é pior: regime para o corpo ou para a alma. Passo pelo bufê de sobremesa e vejo o musse de chocolate, o sorvete de morango, o leite condensado com pêssego em calda. Escorre a água pela boca. Como passar ileso? Por outro lado, como deixar de xingar o motorista que me fecha, reclamar é fácil mas e informar o dinheiro posto a mais na conta bancária? E o que dizer daquele dinheirinho sonegado do imposto de renda? Negar um olhar, ainda que tímido, para a modelo que passa ao lado?
Sinceramente, essas coisas são difíceis. Por isso é que existe tanta gente com barriga no corpo e na alma. O problema mesmo é que, no último caso, a proeminência não é visível e a gente é invariavelmente surpreendido.