quarta-feira, 19 de maio de 2010

Os versos do Tonico

O meu amigo Tonico também escrevia poesias. Guardei alguma coisa dele. Olhem só:

"Quando eu morrer
procurem os pedaçoes de minh'alma
pelo mundo,
porque nada fiz sem alma.
Procurem pelas praças,
jardins e gramados;
pelos montes, planícies e planaltos;
por lugares que sonhei e nunca fui;
nas mulheres que beijei e não amei;
nas mulheres que amei e não beijei;
nos cavalos, nos cachorros e nos pássaros;
na bandeira da República que não houve;
pelos livros que eu li e que não li;
pelos escritos que, por certo, eu deixei;
pelas flores, que eu jamais consegui amar;
pelas estrelas que eu gastei de tanto olher;
pelos lápis, pelas máquinas, pelas letras;
pelos automóveis: os que não tive e o "Austin";
pelas armas;
nas andanças, que não fiz;
nos caminhos, que não fui;
na beleza, na verdade que eu cri;
nas modernidades do mundo que mal vi...
Feito isso, levem-na, empacotada por mãos femininas,
para o túmulo em que largaram meu corpo.
Dias depois, plantem uma semente
no centro da sepultura:
desta meneira poderei continuar
a olhar e amar o mundo que mal vi."

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Nirvana do Formiga

Tinha um amigo de infância: o "Formiga". Escrevia versos sob o pseudônimo de Moisés Girao. Hoje, disseram-me que mora na França. Um dos poemas conservei comigo e agora transcrevo:

NIRVANA

O simplesmente
apagar-se
sem luz e sem sombra,
sem o riso e a lágrima,
sem a saudade do que fui ou do que serei.
Sem ter estórias para contar
e nada para aprender..
Ser o espaço limitado do fim,
o reduzido ao que não se pode reduzir.
......................................
Vem, ó morte, vem depois da morte
doce e inevitável.
E então,
LIVRE,
Nirvanizar-se
como o sopro à chama de uma vela,
e não ser a vela,
e não ser a chama,
e não ser o sopro!