quarta-feira, 23 de março de 2011

A nobreza

A nobreza. Sim, acredito na nobreza. Não no sangue azul que corre pelas veias, nem no sinal divino que privilegia castas. Não. A nobreza está no coração e nas células do cérebro.
Deus põe no mundo pessoas assim. Conheci algumas. Por exemplo: meu avô Ervandil e minha tia Dalila. Sem influência familiar, sem exemplos na escola, sem ícones na educação. Simplesmente nascem nobres. Seres, indubitavelmente, assinalados pelo dom divino.
Discrição, moderação, sensibilidade para dizer o correto no momento adequado, optar pelo silêncio quando é o mais sábio, jamais vangloriar-se, ouvir os outros, perdoar. Suportar a adversidade com resignação, mantendo o controle em meio às tempestades. Nada temer. E, com elegância, trajar-se.
Esse era o meu avô no hall de entrada, com seu olhar manso mas penetrante, porque a bondade dos nobres não é ingênua. Essa era minha tia Dalila em sua cadeira de balanço, elegante dama a domar os ventos, fisionomia dócil dentro de um olhar de solidão. Ele com sua fatiota, colete, gravata e o relógio com uma corrente dourada na cintura. Ela, com sua blusa fechada até o pescoço, saia comprida, cores neutras, sapatos clássicos.
Quando fui presidente de um tribunal, recebi muitos títulos: colaborador, comendador, etc. Os diplomas estão lá no sótão de meu sítio, numa caixa. São peças honoríficas do cargo e não de quem o ocupa, porque em geral sua concessão não passa pelo exame do coração e do cérebro de quem recebe. De vez em quando, tiro o pó daquilo tudo.
Felizes foram meu avô e minha tia que nunca precisaram guardar papéis tão inúteis.