quinta-feira, 22 de abril de 2010

Retratos

Resumir a alma. Por num ponto todo final e a decorrência. Sequência de preocupações cotidianas, úteis, engajadas. Sem acordo.
Nas manhãs serão outras as consequências. O importante é agora. Dançar, cantar, beber, amar. Pichar a solidão. Reticente ironia.
Um dia, esqueci das bagagens. Voltei e elas estavam lá. Os meus retratos. A evoluída inocência para o descaso. Ponto de interrogação. O escorregador por onde deslisavam as evocações e os cantos da infância.
Seguiam os gestos em procissão e saudade. Malícias, lascívia: o imponderável.
Quando menino, aprendi a fazer orações. Ganhei um rosário preto, e adorei Maria, a mãe de Jesus.
Apesar disso, cresci um descrente intermediário.
Um crente não tem bagagens e as minhas estavam lá. Descoloridas, com as pontas um tanto rotas. Duvidosa honra. Memória do que nunca aconteceu. E a sensação de já ter acontecido.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Perdas

Perdas são passos distraídos
sem visita do tempo.
Tardes esgotadas, janelas fechadas,
um jeito de não saber chorar.

Perdas são gotas que não caem,
números que faltam,
poesia que não encanta.
Regra de por o fim.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os meus versos

Foram anos em que resisti
às sombras do meu tempo.
Deixei passar os versos
como se abandonam filhos.

Não soube registrar a digital
neste papel de mundo.
Esqueci do ritmo e da rima,
desaprendi o mistério.

Fui um caminhante de estrada,
sem pedir carona.
Em verdade, sem ter a
quem pedir carona,
e não faltavam anjos no caminho.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Estradas retas

Crises e palavras gastas
Volume de noite matinal.
Pudesse trocaria palavras e crises,
colocaria a máscara,
reuniria os anjos,
e ponto final.

Dores são estradas retas
em que não se olha para trás.
Caminhos de interrogação,
sinais confusos, estrelas erradas.

Há um jeito de ter soluções:
é desvendar o mistério
dessa dúvida que amor renega.
Dormir. Não sonhar. Não acordar,
árvore, folha, vento.