quinta-feira, 22 de abril de 2010

Retratos

Resumir a alma. Por num ponto todo final e a decorrência. Sequência de preocupações cotidianas, úteis, engajadas. Sem acordo.
Nas manhãs serão outras as consequências. O importante é agora. Dançar, cantar, beber, amar. Pichar a solidão. Reticente ironia.
Um dia, esqueci das bagagens. Voltei e elas estavam lá. Os meus retratos. A evoluída inocência para o descaso. Ponto de interrogação. O escorregador por onde deslisavam as evocações e os cantos da infância.
Seguiam os gestos em procissão e saudade. Malícias, lascívia: o imponderável.
Quando menino, aprendi a fazer orações. Ganhei um rosário preto, e adorei Maria, a mãe de Jesus.
Apesar disso, cresci um descrente intermediário.
Um crente não tem bagagens e as minhas estavam lá. Descoloridas, com as pontas um tanto rotas. Duvidosa honra. Memória do que nunca aconteceu. E a sensação de já ter acontecido.

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