sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O lixo das gavetas

Nada como o word. A desgraça dos leitores, a graça da cultura inútil.
No Judiciário é o tormento dos juízes. A gente pegava aquelas petições de cinquenta páginas, espremia e lia o fato e o pedido. Em dois minutos.
Andei limpando a minha mesa. Um monte de coisas fora. Mas encontrei um texto, provavelmente de um dia nublado e frio. Olha o que dizia:
"Hoje me sinto como aqueles sonâmbulos, que perderam o segredo do coração e não acham o rumo das coisas. Andar pelas sombras, tateando com os dedos da alma febril. Tudo por uma tarde cinzenta, fria, em que os gritos da calçada anunciam barbantes, CDs piratas, bolsas ou cigarros.
O tempo de terminar a vida vem com angústia, inutilidade. Não se é mais passageiro de nada. O mendigo da Estação Rodoviária que só admira chegadas e partidas. Deve ser assim no limbo. Sem pressa."
Há almas que devem ter um pacto com tardes de chuva. Úmidas toalhas esquecidas no varal. Alguma coisa que já foi, que já se exauriu. Saudade de um tempo de festas.
Caminhar por uma estrada de terra entre plátanos. Avenida de saudade. Depois, sentar num banco de madeira e ficar olhando o horizonte de dentro do pensamento. E pensar, pensar, pensar com alguma tristeza de solidão. Se alguém abrisse a minha cabeça veria ruas vazias, um vento despretensioso e um relógio, ao longe, batendo dezoito horas. Tempo de divagar é como despedir-se das situações comuns. Um trânsito congestionado de sensações e uma espera infinita.

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