segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estética

Estética é algo para quem não tem fome nem frio, não foi abadonado pelo cônjuge ou não perdeu o ente querido. Estética é experimentar por dentro da sensação como quem quebra um paradigma. Não ter compromisso com qualquer propósito. Sair para a chuva sem guarda-chuva nem capa. Esquecer do almoço. Ignorar o saldo bancário. Seguir com um único combustível: o vácuo da dor, que não faz chorar nem rir. Simplesmente permanecer num ignoto ambiente de ar rarefeito só que com todo o ardor do coração. E produzir assim, afoitamente, como Álvaro de Campos que andou nesse território numa amplitude que ninguém jamais conheceu: “E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida...” Bem, o certo é que em Alberto Caeiro a coisa vai melhor:

"Isto sinto e isto escrevo
Perfeitamente sabedor e sem que não veja
Que são cinco horas do amanhecer
E que o sol, que ainda não mostrou a cabeça
Por cima do muro do horizonte,
Ainda assim já se lhe vêem as pontas dos dedos
Agarrando o cimo do muro
Do horizonte cheio de montes baixos."

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