quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Jaali Hru Ra Hotep (Poderoso sol) CAP. IV

Farto da rotina, Jaali começou a sair de noite, quando a madrugada esvaziava a cidade. Caminhava muito, acabando por conhecer toda a orla do Guaíba.
Tudo se sucedia com regularidade e assim foi por semanas. Só que, num certo dia, Jaali começou a ouvir um barulho estranho das pombas, logo após voltar de sua caminhada noturna. Ficou apreensivo. Em verdade, tinha medo daquela sala enigmática sem teto. Repetiu-se o barulho por mais duas vezes. O arrepio tomou conta de seu corpo. O que poderia ser aquilo? Dormir era impossível. Não suportando mais a curiosidade, dirigiu-se passo a passo para a peça fatídica. Nada encontrou a não ser as pombas inquietas. Sentou-se a um canto para observar melhor o que estava acontecendo. Absolutamente nada, nenhum som, nenhuma imagem, nenhuma luz. Fatigado, levantou-se a fim de voltar para a cama que improvisara. E foi nesse instante, algo que jamais esqueceu, que um raio de luz intenso penetrou pelo teto ausente. O buraco parecia encantado com a intensidade da energia que por ele perpassava. Tudo aquilo cegou Jaali. Apavorado e trêmulo quase não conseguia respirar. Algo, porém, começou a tomar forma. Uma cadeira imensa de ouro. Na verdade, uma espécie de trono e nele sentado um ser de beleza indescritível. Descia, descia, bem devagar. Que maluquice! Como pode acontecer alguma coisa dessa espécie?
Jaali encolhido no seu canto, mal podendo abrir os olhos. O ser encantado olhou para o infeliz mandando-o levantar-se. E começou a falar:
- Já algumas vezes estive aqui e, em algumas delas, também descobri homens fugitivos e amedrontados como tu. Não conheces nenhum porque vens de longe. Tornaram-se famosos e conquistaram várias coisas na vida. Toquei-lhes com as mãos de magia, transformando-os naquilo que seu desejo mais profundo almejava. Certamente, haverás de ter ambições se não por que fugirias para tentar uma vida nova? Diz-me: quais são tuas aspirações?
Jaali não podia falar. Tudo dentro dele paralisara. Sua postura era de um fantasma. Silenciou.

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