segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Jaali Hru Ra Hotep (Poderoso sol) cap. II

Dois dias passados, Jaali decidiu abandonar o navio. Era demais o desconforto. Com pés de pluma seguiu até encontrar a saída. Madrugada, completo silêncio, o guarda sonhando com seus fantasmas, nada impedia a fuga. E assim foi.
Jaali caminhou pelo cais do porto, tentando abrir uma das tantas portas dos armazéns e, finalmente, conseguiu penetrar no armazém A-15. Sacos e sacos de cereais empilhados. Aconchegou-se num canto e ali ficou com a assombração dos ventos das tempestades de agosto. Chovia muito e o frio penetrava por debaixo das portas que davam para a avenida Mauá. De dia, subia na pilha de sacos e admirava o movimento dos carros e das pessoas que iam trabalhar nos edifícios próximos. A fome apertava e o frio desafiava uma reação. Teria que sair dali. Mas como? Para onde ir?
No terceiro dia não suportou mais. À noite, quando desperta a oportunidade para o que é furtivo, pulou por um buraco que havia no teto. Esgueirou-se e conseguiu atingir o chão pelo lado de fora, deixando para trás o armazém A-15. Atingiu o muro, escalando-o com facilidade. Estava na avenida Mauá. Ninguém. Um carro que passava de vez em quando. Pôs-se, então, a caminhar. Viu um prédio imenso que o surpreendeu. Em verdade, era o mercado, imponente no seu amarelo silencioso. Prosseguiu pela avenida Julio de Castilhos. Por sorte não encontrou viva alma. A cidade mais parecia um mundo sonâmbulo. Quando chegou à Rua Vigário José Inácio, dobrou à esquerda e viu a porta aberta do edifício “Carlos Daut”. Não titubeou e entrou às pressas. Dois elevadores à frente. Não sabia o que fazer. Subiu as escadas e, de repente, viu que a porta do apartamento 1035 estava apenas encostada. Entrou e enxergou pouca coisa porque a escuridão era completa. Deitou-se no chão e dormiu.

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