segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Às vezes, é difícil conviver

Às vezes, é difícil conviver. A gente levanta mal dormido, com dor de cabeça, enjoado do fígado, com as costas reclamando. Como é possível reagir com satisfação ao amanhecer? Qualquer deslise é motivo para encrenca. O nível de resistência à frustração é pequeno. Então, as respostas são ásperas, azedas. Vai-se para o trabalho e se recebe a notícia ruim de que o projeto fracassou, de que o dinheiro faltou, de que o carro bateu, de que o filho foi mal na escola. Com todos esses pregos grudados a ferir os pés como andar pela rota da harmonia? Silêncio: é a única válvula de escape. Roer a amargura. Calar: Deus deu apenas uma boca para falar e dois ouvidos para escutar. Ouvir tão-somente, a melhor estratégia, nem que a infame da parceira intensifique sua tagarelice ao ponto de surgirem desejos de eliminação sumária. Como seria bom se nessas horas a gente pudesse fechar os olhos e, comandando as células do corpo, desaparecer. Sumir. Ir lá para a terra de onde veio o Superman entre as pedras frias sem qualquer ruído, sem contas para pagar, canos rompidos no banheiro ou cartões de crédito estourados. Aí você volta, calmo, tranquilo, com vontade de acariciar de novo. A esposa fica linda. Daí, liga a TV e assiste o último minuto da decisão do campeonato em que seu time perde. Sai correndo e gritando: espera, espera! Mas o avião para a terra do Superman já saiu faz quinze minutos.

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