terça-feira, 18 de outubro de 2011

Onde está a folha?

Certa vez, no auditório da Justiça Federal em Florianópolis, estava assistindo a uma palestra do grande professor Cretella Júnior. Era um velho por demais simpático. Ao contrário de seus livros, que trazem uma linguagem monótona, a aula se desenvolvia fluida e levemente, com refinado humor. O interessante é que ele segurava um pedaço de papel surrado na mão e, de vez em quando, consultava essas anotações. Vendo que alguns ficaram intrigados com aquilo, explicou os motivos da consulta. Era uma história que iria contar e que, desde que a conheceu, despertou agudamente a prevenção do palestrante. Jamais, a partir daí, deixou de levar papel escrito para o esquema das suas aulas. Segundo o professor, havia numa igreja do interior um padre que sempre fazia o mesmo sermão. Não sabia dizer outra coisa. Um dia, decidiu escrever dito sermão em várias folhas. Por fim, resolveu deixá-las no púlpito, local de onde os padres falavam antigamente, o que viria a facilitar seu trabalho. Um gaiato, querendo embaraçar o sacerdote, durante a semana foi à igreja e roubou a última folha do sermão. No domingo, começou a missa e, chegando o momento do sermão, o padre dirigiu-se ao púlpito e começou a ler as folhas que lá se encontravam. Foi lendo, lendo e, quando chegou ao fim da penúltima, constava: “e, aí, Adão virou-se para Eva e disse:” Atônito, viu que não existia a última folha. Suado, confuso, perguntou ao sacristão que se encontrava ao longe: “onde está a folha?”
Para não cair numa dessas é que o ilustre administrativista levava sempre sua folha consigo.

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