terça-feira, 9 de outubro de 2012

Husband

As situações pitorescas, em verdade, dão graça à vida. Mas algumas... - puxa, são demais. Minha esposa resolveu aprender inglês. Dei a maior força. Só que, para gravar bem as palavras no idioma britânico, o que ela fez? Escreveu num papel e colou na frente dos objetos. Levantei, de manhã, e fui à cozinha. Na pia estava “sink”; no fogão, “cooker”; na geladeira, “fridge”. No banheiro “basin”, e assim por diante. A casa era um dicionário inglês. Muito interessante. Esforçada. Então, voltei para o quarto e me dirigi ao banheiro para lavar o rosto. Levantei os olhos para o espelho e vi colado na minha testa: “husband”. Era um incidente conjugal que tinha de analisar com a psicóloga. Marquei hora e cheguei cedo à consulta. Sentei na sala de espera. Olhei para a parede e o quadro do meio estava torto. Pensei: tenho que ajeitá-lo. Não suporto moldura torta. Resisti. Tinha que vencer esse impulso neurótico. Fiz a consulta. Convenceu-me a doutora que eu era mesmo um “husband”. Haveria de encarar a colagem como um gesto carinhoso. Não saí convencido de que o dinheiro da consulta tinha sido um gasto que valera a pena. Mas, tudo bem. Na semana seguinte voltei para nova consulta. Cedo. Sala de espera. O quadro ainda torto. Não é possível!!! Será que não existe um outro cliente neurótico? Só eu? Não. Vou resistir. Hei de vencer a ansiedade pela retidão do quadro, que não sei de onde vem. Começo a suar. Levanto. Sento. Levanto novamente. Não suporto e vou adiante. Tento endireitar a moldura. Impossível. Era o prego que não segurava direito. Suor intenso. Nesse instante, a doutora abriu a porta. Entre dentes, minha reação, ao encará-la,foi somente um “he,he,he”. O silêncio dos olhos da minha psicóloga dizia: “putz, esse tratamento vai ser longo”.

Um comentário: