segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Bagé, a República (1)

Pascoal Ângelo não podia mais suportar o calor que, no ano de 1893, chegava mais cedo a Bagé. Não havia quem não se queixasse do verdadeiro caldo que subia das ruas da cidade. Além disso, todos temiam os boatos de uma revolta federalista, projetada pelos descontentes com o governo de Julio de Castilhos, que governava o estado com mão de ferro. Resistência maior ainda era com Floriano Peixoto que sucedera Deodoro da Fonseca apontado como um feroz ditador. Todo esse clima de insatisfação somente fazia crescer a ansiedade dos planos traçados, em silêncio, por especial grupo de Bagé, que mantinha um grande projeto. Em verdade, o que se estava a propor era a criação de país independente, que se formaria por um amplo território, desde a atual Cachoeira do Sul até a cidade de Trinta e Três, que se localiza no Uruguai. O novo estado, sob a marca republicana, se estenderia ainda do porto de Rio Grande à cidade de Quaraí, tendo por capital, obviamente, a metrópole bageense. Isso tudo marcava a apreensão com a investida dos maragatos, de inegável formação monarquista, cujo grande ídolo era o bageense de personalidade marcante, senador Silveira Martins do Partido Federalista. Repetidas reuniões secretas se sucediam numa casa perto do cemitério, onde acabavam por serem traçados planos de conquista e de governo. Ervandil e Eurípedes, intelectuais com formação baseada na cultura francesa, eram os mais atuantes na empreitada. Afinal de contas, Bagé merecia aparecer no cenário internacional graças aos homens de escol que por lá viviam. Em verdade, várias tratativas desde algum tempo vinham sendo feitas com autoridades francesas e britânicas que, em princípio, não viam com maus olhos esse novo estado, que possuía familiaridade com a política europeia. Bagé poderia muito bem ser um ponto de neutralidade entre Uruguai e Argentina e o Brasil. Contavam os idealistas com a colaboração de vários expoentes da política e das forças militares. Inclusive já haviam atraído o filho de Bento Gonçalves, o chefe do Corpo de Transporte, Bento Gonçalves da Silva Filho que, depois, desertou abandonando a luta. O coronel Carlos Maria da Silva Telles não era antipático às pretensões do grupo, embora se mantivesse reticente. Pascoal Ângelo, mercê de seus dotes intelectuais e sensibilidade no trato da coisa pública, de família tradicional e caráter irrepreensível, figurava como o indicado para assumir o cargo de primeiro ministro no sistema parlamentarista que haveria de ser implantado. Poria em prática os ensinamentos e experiências da Universidade de Sorbonne.

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