terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Incidente do Cemitério

A professora Rita Vasconcellos era um ícone da música e do balé em Bagé. Inspiração para muitas moças. Senhora elegante, de fino trato, sempre vestida a rigor. Deixou grandes admiradores. Hoje, o lindo prédio do Conservatório de Música tem seu nome.
Quando do falecimento da professora Rita, em seu velório despontava um sujeito bêbado, que chorava com imensa tristeza à beira do caixão. Cena um pouco insólita, mas inevitável.
Saiu o féretro para o cemitério da cidade, atravessando toda a portentosa Avenida Sete de Setembro. Grandes lamúrias do bêbado, em meio ao silêncio consternado da população que acompanhava os restos da inesquecível mestra.
À beira do túmulo alguém tinha que falar. Ora, quem poderia ser: meu pai, Telmo Candiota da Rosa. Em todos os lugares discursava: velórios, casamentos, batizados, posse de diretorias de sindicatos, de clubes, etc. Palavra solta no ar, aconchegava-se o Dr. Telmo pondo-se à disposição para o “encargo”.
Enquanto isso permanecia o admirador ébrio agarrado ao caixão da professora idolatrada. Lágrimas copiosas acompanhadas por gemidos amargurados.
Orador à moda antiga, com gestos teatrais, voz com singular empostação, colocou-se o Dr. Telmo em frente ao caixão, e com uma das mãos no bolso e a outra em direção ao céu disparou: “Rita, se tivesse o dom divino diria, nesta hora: levanta-te e anda”.
O bêbado arregalou os olhos para o orador e arrematou com voz arrastada: “Por favor, Telminho, não me abre essa ferida!”
O Mathias me contou essa história e o secretário do pai, Jodolnei Trindade, me confirmou porque assistiu a cena.

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